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Tenho um filho especial! E agora ?

Minha filha não fala, não mastiga, caminha com dificuldade, possui 9 graus de miopia, entre outras coisas. Ela ouve, mas não processa as informações, ou seja, não entende o que falo. Se você iniciou a jornada de ter um filho especial, espero que este artigo ajude a refletir sobre o assunto e concluir que você não está sozinho e não, não é o fim do mundo…

O primeiro impacto é inevitável: assim que você recebe a notícia, desaparece o chão sob os pés. Os planos, as expectativas, as cenas de brincadeira no parque, corrida na praia, aventuras e conversas sobre o dever de casa, tudo desaba sobre a sua cabeça. Duas perguntas pairam no ar: “Por que ?” e “E agora ?”.

Passado o primeiro impacto, a segunda etapa geralmente é a investigação. Afinal, você precisa saber a origem do problema e, claro, a possibilidade de acontecer novamente. Depois de inúmeras consultas e exames, você percebe que o seu círculo de amizades foi enriquecido com alguma dezenas de contatos de médicos e clínicas. Além disso, você se sente um expert em alguma área da medicina…

Nesse ponto podem acontecer duas coisas:

  • Você descobre que seu filho é especial devido à algum problema conhecido, como uma síndrome genética;
  • Os sintomas do seu filho não se encaixam em nenhuma síndrome e precisam ser investigados.

Na primeira situação, você poderá ter uma ideia da evolução do desenvolvimento da criança, o que ela poderá ou não fazer. No segundo caso (minha filha está nesse grupo), ninguém sabe o que seu filho poderá fazer ou não. Nesse caso, indicam todo tipo de estimulação: desde fisioterapia, música, terapia ocupacional, fonoaldiólogo, até natação e cavalgada. Os dois casos possuem uma coisa em comum: você descobre que vários casais estão exatamente na mesma situação.

Com o passar dos anos, acontece uma coisa engraçada: a deficiência do seu filho começa a ficar mais evidente, mas, ao mesmo tempo, no seu ponto de vista, isso começa a perder a importância. Surge um “algo mais”, um vínculo mais forte que faz você tirar de letra o trabalho de trocar fraldas, alimentar, dar banho ou qualquer outra atividade com a pessoinha…

Quando isso acontece, as outras pessoas geralmente dizem: “Deus sabe pra quem manda cada filho…”. Nas entrelinhas, o que querem dizer é o seguinte: “Antes contigo do que comigo…” ou “Se fosse comigo, eu não saberia o que fazer”, ou pior: “Deus dá a cada um a cruz que pode carregar..”, ou seja, agora seu filho virou uma cruz, o seu castigo… Na primeira vez que ouvi isso, pensei: tem gente que vai morrer dentro de uma redoma de ignorância… E, claro, nessa altura do campeonato você ainda precisa encarar o preconceito que, mesmo disfarçado, está presente em todos os lugares.

É quando você começa a olhar o mundo de forma diferente. Você conhece pais que possuem um filho perfeito, mas passam o dia gritando: “Não aguento mais!!” ou “Você acabou com a minha vida!!”, ou pais frustrados porque a filha não é modelo, o filho não vai bem na escola, ou não sabe jogar futebol, ou porque não é igual ao do vizinho, ou devido às preferências sexuais, e por aí vai.. Você olha isso tudo e conclui: essas pessoas têm alguma síndrome…

Certa vez uma mulher me confidenciou: “Pretendo ter um filho, mas tenho muito medo de que ele venha com alguma deficiência…”. Respondi de imediato: “Primeiro, você precisa decidir se quer ou não ter um filho. Se quiser realmente, então tanto faz as condições, ele será sempre o seu filho”.

Felizmente, existe o outro lado: você encontra pessoas extraordinárias, guerreiras, exemplares, com filhos que possuem dificuldades mais leves ou severas que o seu, mas que possuem uma coisa em comum: nenhum preconceito e disposição infinita para ajudar os outros.

A realidade é que o seu filho possui limitações. E quem não tem ? Negar isso, se comparar com outras pessoas ou buscar um culpado não é um bom caminho e não o ajudará em nada. Não perca tempo com isso.

Hoje minha filha tem 14 anos. Está do meu lado, ouvindo música enquanto escrevo. Ela não entende o que falo, então tenho que expressar de outras formas o que sinto por ela. Acho que estou conseguindo porque, frequentemente, ela me olha nos olhos, me abraça ou vem para o meu colo para ganhar cafuné. Não conquistei os sentimentos dela com presentes ou palavras, mas com atitudes. Com o seu jeito limitado, ela demonstra que sente algo por mim. Acredite: isso não tem preço e faz tudo valer a pena.

De uma forma ou de outra, todos os filhos são especiais, todos trazem alguma dificuldade e superá-las sempre trará recompensas. Cuide da sua pessoinha e siga em frente. Vamos juntos nessa jornada.

Abraço!

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